“Em democracia há sempre alternativas, que se apresentam e as pessoas escolhem. Só em ditadura é que não há alternativa”, disse Marisa Matias, cabeça de lista do Bloco de Esquerda ao Parlamento Europeu, a propósito dos que defendem o Tratado Orçamental – o tal que pretende mergulhar a Europa por mais 20 ou 30 anos numa austeridade equivalente à dos últimos três anos.
Nas últimas semanas, porém, os partidos do governo sujeitam-nos a uma para tentar convencer-nos de que agora já está tudo bem. “Nos últimos meses, do CDS só se ouve falar do milagre económico; do PSD não se ouve falar de outra coisa senão das melhorias dos indicadores económicos. Não importa que os números venham contrariar aquilo que a direita anda a dizer. Mas a verdade é que PSD e CDS andam há largos meses a celebrar-se a si próprios.”
Porém, prosseguiu, depois de passarem a semana em festa, chegaram a sexta-feira e veio o primeiro-ministro dizer que pode haver um novo aumento de impostos. “O governo diz que tudo corre bem, mas chega a sexta-feira e afinal não corre tão bem”.
Como sempre, a justificativa é o possível chumbo do Tribunal Constitucional aos coortes que o governo aplicou . “Mas o governo que mais aumentou impostos na história da democracia em Portugal não pode esconder-se sempre atrás do Tribunal Constitucional”, afirmou a candidata bloquista, apontando que os aumentos de impostos são responsabilidade do governo e não do TC.
Marisa Matias referiu-se ainda às entrevistas aos jornais de sábado em que Pedro Passos Coelho e António José Seguro disseram estar disponíveis para acordos pós-eleitorais, seja na versão de acordo de governo, de acordo parlamentar.
“Agora já nem sequer disfarçam”, ironizou Marisa Matias. “Não são de facto dois partidos iguais; mas se o PSD é o café e o PS é o leite, já sabemos que depois das eleições teremos o galão”, concluiu.
Contra o bloco central
João Semedo abordou também o tema dos acordos pós-eleitorais entre PS e PSD, admitidos este fim de semana em entrevistas. Depois de defender que a derrota da coligação PSD-CDS é essencial, porque debilita o governo, Semedo ponderou os perigos que traz o voto no PS.
“É que já nem sequer é votar na alternância; é votar num bloco central que Pedro Passos Coelho e António José Seguro há tanto tempo andam a sonhar. Só ajuda à concretização desse velho sonho de um novo bloco central para em conjunto conseguirem impor aquilo que os credores, os mercados, os especuladores e o grande capital querem impor no nossos país: o empobrecimento dos portugueses.”
Sobre a cimeira da troika marcada para o dia das eleições, Semedo disse esperar que o "bom senso se imponha e prevaleça e aquilo que estava preparado para começar no domingo, comece apenas no dia seguinte". Lamentando que Passos Coelho considere a reunião a que comparecerão Mario Draghi, Christine Lagarde e Durão Barroso prestigiante para Portugal e a compare a outro evento qualquer, como a realização da final da Liga dos Campeões, Semedo ironizou a comparação, que disse não estranhar, vinda de um primeiro-ministro que “trata os portugueses a pontapé”.
O coordenador bloquista alertou, porém, que “se o bom senso não prevalecer, podemos desde já garantir-lhes que vamos ter um domingo animado e que não julguem que de Sintra vão ter só os bons ares e os bons climas. Vão ter muito mais. Vão ter o protesto do povo português", advertiu.
Na “selfie” de Seguro está Merkel
Outro orador da noite, Francisco Louçã, também atacou a perspetiva de se construir um bloco central pós eleições. "Reparam quem está na ´selfie´ de António José Seguro ? Está o governo da senhora Merkel", ironizou, recordando que os sociais-democratas alemães fazem parte do governo presidido por Angela Merkel.
Louçã, porém, concentrou-se na cimeira que a troika quer fazer no dia das eleições, sublinhando que o "único que até agora não disse uma palavra" foi o anfitrião da reunião, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.
"Repararam que Christopher de Beck, o único administrador do BCP que não foi condenado a uma pena de prisão, foi ilibado porque alegou que sendo ele o chefe não sabia o que o seu diretor-geral internacional fazia com os 'offshores'. Um tal Carlos Costa, agora Governador do Banco de Portugal", recordou.
A cimeira talvez pudesse então discutir "como é que se pode passar entre os pingos da chuva da irresponsabilidade para conseguir levar um banco à beira da falência" e "ainda ser nomeado para cargos de confiança e juntar-se com Draghi, Lagarde e Barroso, essas três almas penadas que nos vêm aqui no dia das eleições", denunciou o dirigente bloquista.
Chamando ao voto no Bloco, Louçã afirmou que se o partido eleger o segundo eurodeputado, João Lavinha, retira um ao CDS-PP.
"Que maior alegria que podia haver ao povo de esquerda que não fosse esse combate difícil como ele é mas para mostrar que há uma esquerda que vence, que junta, que merece esta solidariedade europeia e esta política que não desiste", disse Francisco Louçã.
Só querem saídas à irlandesa para a banca
Mariana Aiveca, deputada eleita por Setúbal, recordou a discussão na Assembleia da República, na quinta-feira, da proposta do Bloco de adoção de regras para o subsídio de desemprego semelhantes às da Irlanda, proposta rejeitada pela direita e que contou com a abstenção do PS. “A direita só quer saídas à irlandesa para a banca, o PS não sabe o quer, porque se absteve. E nós só queríamos que todos os desempregados tenham apoio”. Para a deputada, há dinheiro para pagar proteção social, só que o dinheiro vai sempre para os mesmos – as SGPS beneficiaram de 1.100 milhões de euros.
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