Anda o povo tão habituado a sofrer na pele as agruras do empobrecimento a que o Governo PSD/CDS nos condenou, para depois chegar a este canto da Europa, primeiro em livro e agora no cinema, a arte de infligir sofrimento a terceiros por prazer.
Na passada segunda feira, enquanto o Governo grego continuava as negociações com o Eurogrupo para pôr fim ao sofrimento do povo helénico, a nossa muito diligente ministra das finanças Maria Luís Albuquerque, pedia no mesmo local a antecipação do pagamento de 14000 Milhões Euros do empréstimo da troika. Que eu tenha conhecimento ainda não foi descoberto ouro ou petróleo entre o Terreiro do Paço e o Campo das Cebolas. Então estamos perante o resultado da subtração do dinheiro dos salários, das reformas e das pensões dos mesmos bolsos de sempre a que a direita não se importa de ir buscar, os que menos têm.
Numa tentativa de manipular a opinião pública o Governo PSD/CDS exulta de contentamento por a troika ter ido embora. Como se isso bastasse para devolver tudo o que foi roubado. Como se os nossos direitos tivessem sido repostos do dia para a noite. Como se a nossa economia estivesse a gerar de novo emprego e a devolver a dignidade a milhares de trabalhadores no desemprego.
Sabemos que isso não é verdade. Assistimos à contínua degradação da Escola Pública com a trapalhada na colocação de professores, cortes nas verbas a instituições de ensino para crianças com necessidades educativas e ensino artístico. Na Saúde impera o caos nas urgências com corredores apinhados de doentes numa longa espera, tendo até ocorrido a morte de alguns doentes. A confusão do sistema informático Citius e a reorganização do mapa judicial na Justiça. O despedimento de mais de 700 funcionários e funcionárias da Segurança Social tornando ainda mais precária a prestação de serviços essenciais aos mais carenciados. Em suma a destruição dos nossos direitos.
Tudo isto já sem a Troika. E porquê?
Porque o Governo assinou o Tratado Orçamental Europeu em 2012 com a aprovação do PS. Este tratado impõe cortes anuais no Orçamento do Estado em 6000 Milhões de Euros até que se chegue a uma dívida pública de 60% do PIB (é hoje 130%) o que é impossível. Significa o contínuo agravamento das condições de vida dos portugueses pelo menos nos próximos 20 anos.
A alternativa existe e está ao nosso alcance. Por isso o Bloco de Esquerda lançou no passado dia 21 de janeiro uma campanha para dizer não à austeridade. Consiste na recolha de assinaturas das cidadãs e dos cidadãos para uma Petição para a desvinculação de Portugal do Tratado Orçamental. Esta iniciativa do BE pretende apelar à participação das pessoas e alertar todas e todos sobre o que é este tratado e as suas implicações negativas.