O Esquerda.net acompanhou a visita da deputada bloquista Mariana Aiveca ao Bairro da Mecânica Setubalense, onde dezenas de famílias se encontram numa situação insustentável, depois de verem cortada a água e a eletricidade.
15 de Abril, 2014
A Mecânica Setubalense foi em tempos uma unidade industrial famosa. Hoje reduz-se a parte do seu esqueleto. No chão de cimento da antiga fábrica dos arredores de Setúbal, sem nada de cobertura por cima, as pessoas construíram ou adaptaram pequenas casas de tijolo, para garantir para si e para os seus “quatro paredes e um teto”.
O bairro situa-se na zona ribeirinha, na estrada que vai da Baixa para a península da Mitrena. No início de uma arriba. À sua frente, o rio e o oceano generosos.
Maria, moradora do bairro, conta-nos:
Quando aconteceu isto a gente ficou muito triste: sem água, sem luz. É um desânimo para este bairro. As crianças não podem estudar, fazem os trabalhos à luz da vela. Para arranjarmos água para fazer a comida temos que ir a casa de pessoas amigas. Tenho uma filha que mora ali no Bairro Azul, que às vezes traz água, às vezes o meu marido também traz no carro.
Sobre o direito a casas dignas para viver, respondem-lhes que estão a “verificar”.
Irundina, outra moradora do bairro, junta-se à conversa:
Quando vamos à Câmara dizem que não têm casa para ninguém – e mandam-nos para a Segurança Social. Quando vamos à Segurança Social, mandam-nos para a Câmara. Então? Estamos como uma bola no meio de um campo.
Nós precisamos que nos ajudem. Mesmo! A Câmara e a Segurança Social dizem que nos vão resolver o problema: mas não dizem quando, não dizem o dia, não dizem nada. Aqui ninguém sabe quando será.
Muitas das pessoas adultas tinham trabalhos precários. A crise arrastou-as para o desemprego e para a luta pela sobrevivência:
Maria - Antes de vir para aqui morava no bairro da Bela Vista, numa casa de aluguer. Trabalhava numa casa, “a dias”, mas a patroa começou a ter problemas de emprego e acabou por me despedir.
Estamos tristes. Vivo aqui há oito anos, nunca tinha acontecido nada disto. Não podemos comprar nada para pôr no frigorífico. Há coisas que não se podem guardar sem ser no frigorífico: iogurte, leite. Somos pobres, às vezes convinha-nos comprar mais quantidades, quando está mais barato, mas temos de comprar só para o dia. Temos que comprar coisas todos os dias, temos que ir longe daqui. Tenho de ir buscar água longe, a casa de pessoas amigas, ou comprar um garrafão. Para lavar a roupa tem que ser à mão.
Ninguém pode viver sem água, nem luz!
Os meus filhos são pequenos e estão todos a estudar. Vão a pé para a escola, aí pelo meio do mato, com a chuva é que é o problema: tudo molhado. Algumas crianças vão para longe, para as escolas da Fonte do Lavre, para o Peixe Frito. Muitos não podem estudar em casa, sem luz – têm de fazer os trabalhos de casa na escola.
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