Os pescadores serão sempre um traço fundamental da identidade setubalense. Os últimos temporais que obrigam a largos períodos sem se poder sair ao mar, voltaram a pôr na atualidade as dificuldades que enfrentam os pescadores, em Setúbal, como no resto do país. Os pescadores têm direito a um apoio de emergência que evite situações de grande carência, quando estão meses sem poder pescar.
O primeiro ato deste roubo organizado a que chamam crise, foi exatamente o abandono a que foram deixados os sectores produtivos do país. Todos nos lembramos quando se queimavam barcos de pesca, no tempo dos governos de Cavaco Silva. Progressivamente foi-se abandonando a pesca, não se modernizou a frota, deitou-se “pela borda fora” um recurso fundamental do país.
Diziam-nos que era imposição da CEE…Redonda mentira! Aqui ao lado, na vizinha Espanha, sujeita aos mesmos regulamentos, modernizaram-se frotas pesqueiras, continuou-se a investir na pesca.
O abandono da produção, foi o primeiro passo para a construção de uma economia só virada para a especulação da banca e do imobiliário, com o Estado a financiar os lucros dos grandes grupos privados.
Assim se chegou onde estamos hoje. O caminho que começou nos governos de Cavaco Silva (que hoje tem o desplante de dizer que o país se tem de virar para o mar), e que o atual governo continua, foi o da ruína do país para benefício dos negócios especulativos de uns tantos senhores que, quando se viram em dificuldades, chamaram o Estado para lhes continuar a assegurar os lucros.
As pescas nacionais estão, na atualidade, confrontadas com uma grave crise económica e social que se caracteriza por uma progressiva degradação do aparelho produtivo, por uma acrescida dependência em relação ao exterior, por uma situação de pré falência de inúmeras empresas e pelo desinteresse de vastas camadas de profissionais e, sobretudo, pelo desinteresse das camadas mais jovens das comunidades que tradicionalmente estavam ligadas à pesca.
A sucessivas restrições e perda de oportunidades de pesca e a uma insistente estagnação dos preços na primeira venda, acresce um continuado agravamento dos custos dos fatores de produção, com particular realce para a escalada do preço dos combustíveis, que conduziu a que a situação no sector se tornasse praticamente insustentável, para pescadores e proprietários de embarcações, que veem os seus rendimentos degradarem-se em termos reais.
Impõe-se que, ao invés das políticas que têm vindo a ser seguidas, se enverede por uma política que garanta a satisfação do abastecimento público de pescado, a manutenção plena dos postos de trabalho e a melhoria das condições de vida e de trabalho dos pescadores e que contribua para o desenvolvimento da economia nacional.
Os pescadores de Setúbal, e de todo o país, têm direito a uma vida digna…